
Um comentário muito comum que vejo sobre
roupas vitorianas é que “são lindas, mas e no calor?” ou até mesmo “é
lindo, mas soo só de olhar”. Esse problema era de fato grave para as
mulheres do século 19 no Brasil, que é mais quente do que a Europa do
que no dia-a-dia, e muito mais quente no verão.
O maior problema com os vestidos
vitorianos, se pegarmos a década de 1850, por exemplo, é que as mulheres
precisavam de pelo menos seis anáguas para manter suas saias amplas, e
elas eram geralmente feitas de lã ou algodão, sendo desconfortavelmente
quente e pesadas no verão. Em 1856, a americana W.S. Thompson tirou uma
patente e comercializou uma espécie de gaiola de crinolina feita em aço,
que deixava as mulheres se moverem mais livremente e deixava o ar
circular melhor (de fato, as mulheres se tornavam mais instáveis com rajadas fortes de vento).
A Inglaterra e a França eram os ícones da
moda no século XIX, devido às suas conquistas militares e econômicas,
assim como o poder que exercia em muitas nações. No Brasil, a moda
preferia era a francesa, e não só vestidos vinham encomendados de Paris,
mas muitos parisienses vieram para o Brasil abrir suas lojas. Mesmo o
pior alfaiate ou cabeleireiro pariesiense era visto como o melhor,
apenas por ser francês.

Europeus e brasileiros (que imitavam os
Europeus no século 19), geralmente passavam seus verões em suas casas de
campo. Mesmo durante a Guerra Civil na Inglaterra, usar vestidos muito
elaborados no verão era visto como vergonhoso; e diferentemente da
Inglaterra, os norte-americanos viam como vergonhoso uma mulher trocar
de vestido até cinco vezes por dia. No verão do século 19, vestidos
claros com poucos ornamentos eram mais favorecidos, assim como uma ampla
gama de trajes de banho e trajes de esporte.
Também é preciso levar em consideração
que o mundo do século XIX era um pouco mais frio do que o mundo do nosso
século 21. Por exemplo, hoje em dia em alguns lugares na Europa, ondas
de calor podem levar até 36º graus – o que é visto por eles como dias
muito quentes. Enquanto isso, no Brasil, hoje, podemos facilmente chegar
a 40º – sem a ajuda de nenhuma onda de calor. No entanto, foi apenas
no final do século XIX que a temperatura média global começou a se
elevar: antes disso, o clima britânico estava dentro de uma “pequena era
glacial”, que durou de 1480 a 1850. A última grande frente fria na
Grã-Bretanha foi entre 1878 e 1879, quando a superfície do Tâmisa e de
outros rios congelaram duas vezes. Para se ter uma idéia, entre 1860 e
1990 o aumento a temperatura global foi de apenas de 0,6ºC.
Na maioria das vezes, a mulher vitoriana
nunca permitira que outros vissem suas pernas ou braços em público. No
entanto, no final do século, muitas mulheres já se aventuravam com
vestidos de mangas curtas, ou usavam sais curtas suficiente para que
seus tornozelos fossem vistos (um verdadeiro choque para a época). Um
acessório importantíssimo do verão era um chapéu, que poderia ser muito
elaborado e decorado com flores, penas de avestruz ou renda, assim como
os guarda-sóis e leques.

Para as mulheres trabalhadoras era mais
fácil: na década de 1830 passou a ser usado uma combinação de camisa
(com espartilho) e saia, que deveriam ser usadas juntas. Como disse um
contemporâneo no século 19, uma mulher trabalhadora se contentaria com
seis vestidos no seu guarda-roupa, enquanto uma Lady não ficaria feliz
com menos de sessenta. Dentro de casa, usava-se um robe que dispensava o
uso de espartilho, geralmente preferido por grávidas.
Um dos problemas do verão para a moda do século XIX no Brasil é que
as brasileiras se viam limitadas a imitar a moda parisiense, e para isso
era necessário ultrapassar a barreira do clima,“Apesar do calor carioca, a imitação das modas européias levava as damas brasileiras a vestir pesadas roupas de veludo, […] Usada como adereço de passeio nos primeiros veraneios oitocentistas europeus a sombrinha foi adotada sob o calor tropical”.
Ana Maria Maud.

Embora os primeiros vestidos usados no
Brasil fossem suntuosos, feitos de veludo e tafetá, logo foram
substituídos pelos de seda e tule de algodão, mais leves e climatizados.
Ainda sim, as brasileiras eram consideradas cafonas pelas européias,
por causa das adaptações das roupas por conta do clima.
Embora na Europa a escravidão já havia
acabado antes ou pouco depois da subida de Vitória ao trono em 1831, a
escravidão ainda reinava no Brasil. Aqui, eles não tinham nenhuma
variação para os meses mais quentes ou mais frios do ano. Os homens
usavam uma espécie de macacão ou calça, enquanto as mulheres usavam
vestido (geralmente de chita) ou saia e blusa, geralmente de origem
africana. As roupas dos cativos eram geralmente padronizadas, talvez
como um sinal de diferenciação de seus senhores. Os senhores mais ricos,
em sinal de status, vestiam bem seus escravos para diferenciá-los dos
mais pobres.
Fonte: Era Vitoriana.
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Mas, sou um historiador, é por isso que amo a vida”.
Marc Bloch