Atleta negro conquistou 4 ouros em 1936, na 'Olimpíada do nazismo'.
Jesse Owens ao lado de Luz Long, no pódio dos 200m dos Jogos de 1936
O Estado de S. Paulo
31 Março 2015 | 10h44
Há
exatos 35 anos, no dia 31 de março de 1980, falecia o vencedor de quatro
medalhas de ouro olímpicas e um dos atletas mais conhecidos da história: Jesse Owens. Aos 66 anos,
não ele não resistiu às complicações derivadas de um câncer de pulmão por conta
do vício em tabaco que se iniciou após sua vida atlética. Seu legado, porém,
viverá para sempre como um dos mais importantes e emblemáticos que o esporte já
proporcionou ao mundo.
Suas
quatro medalhas de ouro foram conquistadas na Olimpíada de Berlim, em 1936, em
plena Alemanha nazista. James Cleveland Owen já sofria com o racismo desde sua
infância, quando sua família decidiu se mudar de Oakville, no Alabama, para a
cidade de Cleveland, em Ohio, fugindo da segregação racial do sul dos Estados
Unidos na época em uma grande onda de migração. Na nova cidade, se identificou
como 'JC' (iniciais de seu nome, como foi apelidado em Oakville), mas, por
conta de seu sotaque do sul, ficou conhecido pelo apelido de 'Jesse'.
Em
Cleveland, Jesse Owens dividia seu tempo entre os estudos, seu trabalho em uma
sapataria e sua verdadeira paixão: a corrida, quando passou a ser treinado pelo
técnico Charles Riley, que o motivou a seguir a vida no atletismo. Quando
entrou na Universidade de Chicago, começou a quebrar recordes nacionais e
rapidamente se tornou um fenômeno no país. Porém, quando viajava com sua
equipe, era obrigado a frequentar hotéis e restaurantes 'apenas para negros', dependendo
do nível de segregação do Estado em que ia competir.
Jesse
Owens ao lado de Luz Long, no pódio dos 200m dos Jogos de 1936
Aos
23 anos, foi à Alemanha para disputar os Jogos Olímpicos de Berlim. Idealizados
e abertos pelo Chanceler Adolf Hitler, o objetivo do evento era claro: provar a
supremacia do corpo de cor 'ariana' perante às outras etnias. A Alemanha, de
fato, ficou em primeiro lugar no quadro de medalhas, com 33 ouros, por conta da
grande mobilização nacional no 'auge' do regime nazista. Simbolicamente, porém,
o nazismo de Hitler foi derrotado.
Após
Cornelius Johnson, outro atleta negro, ganhar a medalha de ouro no salto em
altura, Hitler, que estava presente no Estádio Olímpico de Berlim, se recusou a
descer da tribuna para cumprimentar os medalhistas. A seguir, foi iniciada a
saga de Owens: ele venceu os 100 e 200 metros rasos, o revezamento de 400
metros e o salto em distância. Na 'Olimpíada do nazismo', o atleta negro
terminava como grande ídolo e aclamado por todas as nações, inclusive pela juventude
alemã, para ira do regime. Na prova dos 200 metros, foi cumprimentado até mesmo
pelo alemão Luz Long, que terminara em segundo lugar.
Além
de 'derrotar' o regime hitlerista, Jesse Owens deixa claro em sua biografia que
sua outra conquista foi contrapor a noção racista da própria sociedade
norte-americana na época. Ele revela que o presidente Franklin Delano Roosevelt
não lhe enviou sequer um telegrama para felicitá-lo pela conquista. "É
verdade que Hitler não me cumprimentou, mas também nunca fui convidado para
almoçar na Casa Branca", revelaria Owens.
Até
os dias de hoje, o legado do atleta é lembrado. Em 2012, quando foi inaugurado
o 'Hall da Fama' da Associação Internacional de Atletismo (IAAF), Owens esteve
na primeira turma de homenageados. O dormitório utilizado por Owens nos Jogos
de 1936 se tornou um museu, com imagens de suas conquistas nos jogos e até uma
carta de um fã pedindo para que o atleta nunca apertasse as mãos de Hitler. Sua
história ficaria marcada como um exemplo de que é possível, por meio do
esporte, quebrar preconceitos e estereótipos em busca de uma sociedade menos
desigual.
FONTE: http://esportes.estadao.com.br/noticias/jogos-olimpicos,ha-35-anos-morria-jesse-owens-o-homem-que-derrotou-hitler,1661337
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