Como foi a ocupação holandesa no Brasil?
O holandês Maurício de Nassau ajudou a modernizar Recife, mas
foi forçado a voltar para a Europa em 1644
Por Tiago Cordeiro
1. Antes mesmo de ocupar parte do
Nordeste, os holandeses já atuavam na economia do Brasil. Com apoio de
Portugal, eles haviam investido no maquinário de processamento da cana-de-açúcar e cuidavam de parte do refino. A
parceria entre os países acabou em 1580, quando a Espanha aproveitou um vácuo
de poder em Lisboa e incorporou o reino português (e suas colônias).
2. Os espanhóis romperam o acordo sobre a produção de
açúcar, que rendia bons lucros aos holandeses. Isso azedou ainda mais a relação
entre os dois povos, que já era ruim porque, em 1581, a Holanda, ex-colônia da
Espanha, conseguiu sua independência. A invasão do Brasil em 1624 foi quase uma
“revanche”, integrando uma série de conflitos entre as duas nações.
3. A primeira investida militar dos Países Baixos contra o
Brasil foi em Salvador. Durou apenas um ano, entre maio de 1624 e maio de 1625.
Em 14 de fevereiro de 1630, atracaram em outro local: Pau Amarelo, no litoral
de Pernambuco. Passaram os sete anos seguintes enfrentando vários focos de
resistência, até, enfim, dominarem um território que ia do Maranhão a Alagoas.
4. Em 1637, a Companhia das
Índias Ocidentais (empresa holandesa que administrava rotas comerciais no mundo
todo) enviou um representante para botar ordem na “Nova Holanda”, destruída
pelos sete anos de conflito. Era Johan Maurits von Nassau-Siegen, ou Maurício de Nassau. Ele chegou com sua própria “agência
de publicidade”, formada por 46 artistas, cronistas e naturalistas.
5. Até então, Olinda era a cidade
mais importante do estado. Mas Nassau queria transformar Recife na “capital das
Américas”. Investiu em uma grande reforma no atual bairro de Santo Antônio,
rebatizado como Mauritsstad. A vila caótica, onde as pessoas jogavam fezes na
rua, virou uma cidade urbanizada, com novas ruas, praças, jardins,
canais e a primeira ponte da América Latina.
6. Para os padrões da época, a
Nova Holanda era bastante tolerante com outras religiões. Muitos judeus fugidos
da Europa se instalaram em Recife, onde inauguraram a primeira sinagoga das Américas (na atual Rua do
Bom Jesus). Pastores da Igreja Cristã Reformada ergueram 22 templos, tentaram
traduzir a Bíblia para o tupi e até enviaram seis índios para aprender a nova
fé na Europa.
7. A Companhia das Índias trouxe
à região funcionários de várias partes do mundo. E o porto de Recife começou a bombar com a exportação
de açúcar e com a chegada de navios negreiros (cuja carga era repassada para
todo o Nordeste, Caribe e Virgínia, nos EUA). Logo, a cidade se tornou um
centro cosmopolita, com alguns dos bordéis mais agitados do mundo.
8. Nassau se tornou bem-quisto na
região – mas era cada vez menos popular na Holanda. Seu salário era alto, sua
equipe era muito grande e suas obras eram caras. Para piorar, ele não era
rigoroso com os senhores de engenho na hora de cobrar os empréstimos feitos pelo governo. Acusado de
improbidade administrativa, foi forçado a voltar para a Europa em 1644.
9. Quando Nassau foi embora,
Portugal já havia se separado da Espanha. Mas demorou para enviar soldados para
retomar o Nordeste. A região só foi reintegrada ao Brasil após esforços dos
próprios habitantes locais, revoltados com a nova política de cobrança de
dívidas instituída pela Holanda. Mesmo mal armados e
em menor número, conseguiram expulsar os invasores, em janeiro de 1654.
E se eles tivessem ficado no Brasil?
No lugar de parte do Nordeste haveria outro país: a Nova Holanda
Se a invasão
tivesse dado certo, hoje o Brasil faria fronteira com a Nova Holanda. Recife
seria conhecida como Mauritsstad, Natal como Nieuw-Amsterdam e João Pessoa como
Frederikstad. Teriam uma típica arquitetura holandesa, com bom uso de canais e
transporte por água. As universidades e os centros de pesquisa teriam se
desenvolvido antes que as do resto do Brasil. Mas nada indica que esse país
hipotético seria mais rico que o Nordeste atual. Basta ver o caso do Suriname e
da Indonésia, colonizados pela Holanda e pouco desenvolvidos.
FONTES Livros O Brasil e os Holandeses, de Evaldo Cabral de Mello
(org.), Guerra, Açúcar e Religião no Brasil dos Holandeses, de
Adriana Lopez, Brasil Holandês: História, Memória e
Patrimônio Compartilhado, de Hugo Coelho Vieira, Nara Neves Pires
Galvão e Leonardo Dantas Silva
CONSULTORIA Marcos
Galindo, historiador e professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)
FONTE: https://mundoestranho.abril.com.br/historia/como-foi-a-ocupacao-holandesa-no-brasil/
FONTE:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
“Se eu fosse a um antiquário, só teria olhos para as coisas velhas.
Mas, sou um historiador, é por isso que amo a vida”.
Marc Bloch